O câncer de bexiga do estádio T1 de alto grau tem a maior taxa de recorrência entre os pacientes portadores de câncer de bexiga não-músculo invasivo. Em uma meta-análise com 15.215 pacientes com doença pT1 de alto grau, a recorrência de 5 anos foi de 42% (IC95% de 39%-45%). Saiba sobre os sinais e sintomas do câncer de bexiga.
O estádio patológico é confirmado após o pólipo ser removido da bexiga pela ressecção endoscópica do tumor. Nele, o patologista identifica que o tumor invadiu a membrana basal do epitélio da bexiga (urotélio) e o córion. Geralmente, estes tumores são de alto grau, pois os de baixo graus não tem maquinaria celular alterada para poder invadir a membrana basal. Ou seja, não tem mutações que favoreçam a invasão loco-regional ou vascular e linfática. Portanto, para ocorrer invasão a célula neoplásica tem que ser modificada o suficiente para poder digerir tecidos e invadir estruturas vizinhas.
A maioria do pacientes com câncer de bexiga do estádio T1 deve ser submetidos a uma nova RTU em 1-1,5 mês da primeira cirurgia para avaliar a ressecção local e investigar a presença de outras áreas suspeitas de tumor ou CIS. Assim sendo, esta conduta é aceita pelas sociedades urológicas e é chamada de Re-RTU do tumor de bexiga.
Os tumores vesicais não-músculo invasivos são representados por 3 grupos de tumores, os pTa, pT1 e CIS. Portanto, podem ser planos ou como um pólipo que crescem para dentro da luz da bexiga. Podem crescer no epitélio da bexiga (urotélio) ou invadir o córion. Todavia, não podem invadir o músculo próprio da bexiga ou seja, o detrussor. A partir daí são considerados câncer músculo-invasivo de bexiga. Deste maneira são classificados em:
Vale a pena observar que a maioria dos pacientes apresentam recidiva nos 2 anos depois da cirurgia. Portanto, nesta fase estes pacientes devem receber tratamento adjuvante e realizar seguimento rigoroso. Se houver progressão da doença, estes pacientes devem ser tratados como portadores de câncer de bexiga músculo-invasivo. Portanto, com quimioterapia sistêmica e/ou cistectomia radical.
Uma metanálise é uma avaliação estatística de vários pacientes tratados de uma mesma doença em diferentes estudos. Portanto, suas conclusões são consideradas mais fortes e significativas. Em metanálise com 7.410 pacientes com câncer de bexiga não-músculo invasivo do estádio estádio T1, 2.897 (39,1%) experimentaram recorrência sem progressão, 2.449 (33,0%) tiveram recorrência com progressão da doença e 981 morreram pelo câncer. Além disso, nesta série, as taxas de recidiva em 2, 5 e 10 anos para tumores T1 foram 64,2%, 72,5% e 77,2%, respectivamente. Assim, a progressão da doença quer dizer que o tumor recidivou e se tornou mais agressivo, invadindo a musculatura própria da bexiga.
As taxas de recorrência, progressão e mortalidade relacionadas ao câncer de bexiga do estádio T1 em 10 anos foram de 74,3%, 33,3% e 12,3%, respectivamente. A razão de risco (HR) para recorrência foi de 1,22 (IC 95% 1,151,30) para doença em T1 em comparação com tumores Ta de alto grau. Portanto, o risco nestes pacientes é 22% maior que os tumores de alto grau que não invadem a membrana basal, ou seja, tumores que estão restritos ao urotélio (pTa).
Vale a pena observar que a maioria dos pacientes apresentam recidiva nos 2 anos depois da cirurgia. Por isso, nesta fase estes pacientes devem receber tratamento adjuvante e realizar seguimento rigoroso. Assim, se houver progressão da doença estes pacientes devem ser tratados como portadores de câncer de bexiga músculo-invasivo. Portanto, com quimioterapia sistêmica e/ou cistectomia radical.
A Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC) para pacientes com câncer de bexiga estádio T1 de alto grau tratados com terapia intravesical com BCG. Assim, realizados os ciclos de indução e manutenção se prevêem taxas de progressão de 1 e 5 anos de 11,4% e 19,8%, respectivamente. Portanto, esta taxa é marcadamente superior à taxa de progressão de 5 anos de 0,8 a 6% para tumores do estádio patológico Ta de baixo grau.
Em uma série de 4.258 pacientes com doença de T1 de alto grau, as taxas de progressão de 2, 5 e 10 anos foram de 17%, 29,5% e 42,2%, respectivamente. O risco relativo (RR) para progressão foi de 2,30 (IC95% 2,07-2,55 ) em comparação aos pacientes com tumores pTa de alto grau. Ou seja, mais que o dobro e portanto, estes pacientes são de muito alto risco para morrerem da doença.
Variáveis | Risco relativo |
Subestádio pT1b ou pT1c | HR 3,34, IC 95% 2,045,49 |
Invasão vascular | HR 2,88, IC95% 1,615,14 |
Presença de carcinoma in situ – CIS | HR 2,07, IC 95% 1,482,90 |
Sem receber terapia com BCG | HR 1,78; IC95% 1,42-2,23 |
Tamanho do tumor maior que 3 cm | HR 1,66; IC95% 1,40-1,98 |
Número de tumores | HR 1,40; IC95% 1,06-1,84 |
Sexo feminino | HR 1,40; IC95% 1,131,73 |
Idade avançada | HR 1,32; IC95% 1,111,58 |
Contudo, a terapia de manutenção com BCG foi protetora contra a progressão da doença (HR 0,73, IC 95% 0,59-0,90) ou seja, reduziu o risco de progressão em 27% dos pacientes.
A mortalidade câncer específica de pacientes com câncer de bexiga pT1 de alto risco é mais de três vezes maior do que os pacientes com tumores pTa em 5 anos e 10 anos (14,8 e 17,8%, comparado a 5,1% e 6,2%, respectivamente) (HR 3,06, 95% IC 2,54-3,69). Portanto, estes pacientes devem ser acompanhados com muito critério e proximidade dos seus médicos. Qualquer mudança clínica deve ser rigorosamente investigada. Portanto, o seguimento adequado pode fazer a diferença entre a melhora da sobrevida ou a evolução para morte por progressão da doença.
A presença de certas características clínicas e patológicas pioram as chances para mortalidade. Assim, algumas destas variáveis são clínicas, endoscópicas, vistas em exames de imagem e outras anatomopatológicas.
Variáveis | Risco relativo |
Subestádio tumoral T1b ou T1c | HR 2,02; IC 95% 1,323,07 |
Invasão angiolinfática | HR 2,08; IC 95% 1,442,99 |
Carcinoma in situ – CIS | HR 1,28; IC 95% 1,041,56 |
Sem tratamento com BCG | HR 1,84; IC 95% 1,13 3,02 |
Doença não papilar | HR 2,33; IC 95% 1,16 -4,67 |
Tamanho do tumor maior que 3 cm | HR 1,56; IC 95% 1,172,06 |
Idade avançada | HR 1,92; IC 95% 1,502,46 |
Tumores recorrentes | HR 1,52; IC 95% 1,04-2,22 |
Até 25% dos carcinomas uroteliais contêm algum componente de variante histológica, que é definida como um câncer de bexiga com qualquer ou componentes não-uroteliais. Esses tumores geralmente são mais agressivos que os carcinomas uroteliais puros. Por isso, eles apresentam altas taxas de invasão muscular e loco-regional no momento da cistectomia radical. Além disso, geralmente apresentam comprometimento linfonodal.
Infelizmente, as variantes histológicas são subnotificadas pelos patologistas e portanto, é melhor identificada pelos patologistas especializados com doenças do trato gênito-urinário. Assim, a histologia variante é identificada em 6,4% nos pacientes submetidos a ressecção endoscópica do tumor de bexiga e nos submetidos a cistectomia radical em 14,1%.
Entre todos os pacientes com doença pT1-pT4, a sobrevida câncer específica de 3 e 5 anos para pacientes cujos tumores tinham histologia urotelial pura foi de 78,1% e 56,9%, respectivamente. Todavia, nos pacientes cujos tumores tinham histologia variante histológica foi de 36,5% e 32,1%. Assim, a histologia variante pós-RTU do tumor de bexiga foi independentemente associada com pior sobrevida livre de recidiva (HR 4,01, IC 95% 1,678,21, p =0,001).
A história clínica de algumas variantes uroteliais tem mostrado evolução rápida e letal. Assim, pacientes com subtipos de variante urotelial agressivos, como as variantes micropapilares, plasmocitóides, neuroendócrino de células pequenas e sarcomatóides devem ser submetidos a cistectomia radical precocemente. Contudo, em alguns casos pode-se indicar a quimioterapia neo-adjuvante (antes de se realizar a cistectomia). Todavia, pacientes com variantes uroteliais como tumores com diferenciação escamosa ou glandular, do tipo linfoepitelioma e nested tumors podem ser tratados com BCG intravesical se o câncer for completamente ressecado. Portanto, é imperativo nestes casos se indicar a Re-RTU do tumor de bexiga realizada de 4-6 semanas depois da primeira RTU.
Concluindo, estes pacientes devem ser tratados com o máximo de atenção para que se possa obter o melhor resultado possível. Assim sendo, eles devem ser operados e devem receber tratamento adjuvante. Por isso, o seguimento do paciente deve ser próximo pelo menos nos três primeiros anos. Assim, qualquer progressão local deve ser indicativo de cistectomia radical. Contudo, alguns destes pacientes devem ser submetidos a cistectomia precoce, principalmente os pacientes com variantes histológicas.
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http://Chamie K, Litwin MS, Bassett JC, Daskivich TJ, Lai J, Hanley JM, Konety BR, Saigal CS; Urologic Diseases in America Project. Recurrence of high-risk bladder cancer: a population-based analysis. Cancer. 2013 Sep 1;119(17):3219-27.
Jordan B, Meeks JJ. T1 bladder cancer: current considerations for diagnosis and management. Nat Rev Urol. 2019 Jan;16(1):23-34.
https://uroweb.org/guideline/non-muscle-invasive-bladder-cancer/#6