DPOC e hipogonadismo. Há relação?

Doença pulmonar obstrutiva crônica é sistêmica com múltiplas manifestações extra pulmonares. O paciente pode apresentar baixa de testosterona.

DPOC e hipogonadismo. Há relação?

A DPOC ou doença pulmonar obstrutiva crônica inclui a bronquite crônica e enfisema. Elas são doenças pulmonares de longa duração que dificultam a respiração. Seu curso é progressivo e vai aos poucos vai piorando a atividade física dos pacientes. A DPOC é uma doença sistêmica caracterizada por múltiplas manifestações extra pulmonares. Assim, na fase avançada o paciente geralmente apresenta hipogonadismo. Entenda porque melhorar o nível de testosterona pode melhora sua DPOC.

Uma das consequências da DPOC é a disfunção muscular, causando fraqueza e perda muscular. Estes pacientes apresentam ampla gama de complicações sistêmicas. Nesta fase, o paciente pode apresentar caquexia (perda de massa muscular) e progressão para morte. Além disso, a disfunção muscular periférica está associada à fraqueza, diminuição da capacidade de exercício, piora da qualidade de vida e por fim, diminuição da sobrevida.

 

DPOC e perda da qualidade de vida

A DPOC é a quinta causa principal de incapacidade global (perda de saúde). O estado de saúde ou a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) é uma medida clinicamente importante de incapacidade nos pacientes com DPOC. A capacidade de exercício, um dos principais determinantes da QVRS, é significativamente prejudicada em pacientes com DPOC. A dispneia (falta de ar) e a fadiga por disfunção do músculo esquelético, entre outras anormalidades fisiológicas, são sintomas cardinais que limitam a capacidade de exercício em pacientes com DPOC. Isso se deve em parte à diminuição da força e caquexia, uma vez que são características da disfunção do músculo esquelético que contribuem para a intolerância ao exercício e consequente deterioração da QVRS.

DPOC e hipogonadismo

 

Sinais e sintomas do hipogonadismo

A maioria dos pacientes com DPOC são de meia-idade ou idosos e apresentam hipogonadismo de início tardio. Os sintomas da deficiência de testosterona associados incluem diminuição da libido, disfunção erétil, diminuição da resistência e força físicas, humor deprimido, fadiga, aumento da adiposidade visceral, distúrbios do sono, baixa concentração e diminuição da memória. Além disso, eles apresentam diminuição do nível de energia, densidade óssea e massa muscular. Assim, os pacientes com deficiência androgênica têm diminuição da sensação de vitalidade e do bem-estar.

 

 

Sinais e sintomas do DPOC

A doença é crônica, pois geralmente o hábito de fumar começa na adolescência e os sintomas começam aparecer após os 50 anos de idade. Assim, um dos primeiros sintomas é ficar sem fôlego facilmente. Desta maneira, pequenos esforços podem causar uma respiração mais profunda e se mais intensa, você fica ofegante, com respirações mais profundas.

Outros sinais são:

      • Chiado no peito

      • Tosse seca constante

      • Contudo, pode ter períodos com tosse com muito muco (expectoração)

      • Sentindo-se cansado mais facilmente

      • Pode ocorrer resfriados frequentes ou gripe

    Na doença mais avançada é difícil andar e realizar pequenos afazeres como cozinhar, limpar a casa ou até tomar banho. Além disso, as pernas ou pés podem inchar, há menor força muscular e resistência, dor de cabeça pela manhã, lábios e extremidades mais azuladas e perda de peso. Isto ocorre por que há menor oxigenação nos glóbulos vermelhos (hemácias). Além disso, o tórax pode se tornar maior e suas maças do rosto se tornam mais avermelhadas.

     

    Enfisema e DPOC

    Dilatação excessiva e permanente dos alvéolos pulmonares, com ruptura das paredes interalveolares, causa dificuldade para a troca gasosa. Ao longo dos anos, os alveolares vão sendo progressivamente destruídos e vão formando sacos alveolares. O oxigênio se fixa as hemácias e é eliminado o gás carbônico, isto é chamado de troca gasosa. Portanto, cada vez menos oxigênio é capitado em cada respiração. O enfisema pode formar grandes espaços de sacos alveolares, as vezes maiores, com alguns centímetros. Portanto, ao longo do tempo vai ocorrendo perda da massa alveolar. Normalmente, quando a destruição alveolar é maior que 70%, a pessoa passa por grave restrição respiratória.

    O tórax destes paciente fica alargado antero-posteriormente. Normalmente, nesta fase já se observa perda da massa muscular e os espaços intercostais ficam alargados. Sem os músculos intercostais, a pessoa vai piorando o fôlego e facilmente fica com falta de ar aos pequenos esforços. Além disso, quando se realiza uma radiografia do tórax se observa que a distância do ápice pulmonar para o diafragma é maior que no indivíduo normal. O diafragma é o músculo que separa o tórax do abdômen.

     

    Causas principais do enfisema

    Ao redor de 90% dos pacientes com DPOC são fumantes ou ex-fumantes. A segunda causa é a exposição a irritantes ambientais e à poluição. Raros casos são causados por mutação no DNA. É a chamada deficiência de alfa-1 antitripsina. Mais ainda, o pior é a insuficiência respiratória, e por causa da irritação crônica, pode ocorrer o aparecimento do câncer de pulmão.

    A tosse normalmente é crônica e piora com a extensão da doenças nos brônquios e no pulmão. A tosse é pior de manhã e no tempo úmido e frio. Com mais facilidade estes pacientes têm pneumonia, o que acaba lesando mais os alvéolos e piorando ainda mais a reserva funcional pulmonar. Além disso, as bronquites são recorrentes, com tosse produtiva e de difícil tratamento medicamentoso. São usados corticoides, antibióticos e broncodilatadores, mas nada repõem os alvéolos perdidos.

     

    DPOC e hipogonadismo

    O diagnóstico de DPOC foi baseado na história de tabagismo e nos testes de função pulmonar, demonstrando limitação irreversível do fluxo aéreo. Os mecanismos potenciais para essa disfunção endócrina provavelmente envolvem hipoxemia, hipercapnia (excesso de dióxido de carbono no sangue, ou seja, CO2), inflamação sistêmica e o uso de glicocorticóide. A prevalência de hipogonadismo em homens com DPOC pode variar de 22 a 69%. Além disso, tem sido associada a várias outras manifestações sistêmicas, incluindo osteoporose, depressão e fraqueza muscular.

     

    Manifestações sistêmicas do DPOC

    Desordens metabólicas
    Diabetes mellitus tipo 2
    Síndrome metabólica
    Dislipidemia
    Caquexia
    Obesidade
    Perda de massa muscular
    Doença óssea: osteopenia e osteoporose
    Doença cardiovascular
    Doença isquêmica cardíaca
    Hipertensão arterial
    Hipertensão pulmonar
    Cor pulmonale
    Câncer
    Apneia respiratória noturna
    Depressão e desordens de ansiedade

     

    Estudos que avaliaram comorbidades entre pacientes com hipogonadismo

    A definição clínica do hipogonadismo foi feita baseada em preenchimento dos 3 principais sintomas: diminuição da libido, diminuição da frequência das ereções matinais e disfunção eréctil. Neste estudos foram avaliados 1222 pacientes, com média de idade de 57 anos (40-70 anos). Todos participantes preencheram o escore de sintomas do envelhecimento masculino relacionados a qualidade de vida (AMS). Desta maneira, foram investigadas as suas doenças associadas. Do total, 402 eram saudáveis e 820 homens apresentaram algumas comorbidades.

    Várias doenças acompanham o hipogonadismo, como hipertensão arterial, obesidade, dislipidemia, diabetes mellitus, síndrome metabólica, disfunção erétil, DPOC e etc. Os níveis de testosterona foram encontrados significativamente maiores entre homens saudáveis (mediana de 4,7 ng/mL) em comparação aos homens com morbidades (2,55 ng/mL, p <0,001), ajustado para a idade. A deficiência de testosterona foi detectada em proporção significativamente menor de 402 homens sem comorbidades em comparação aos 820 homens com comorbidades: em 19 homens (4,7%) e em 650 homens (79,3%, p <0,05, respectivamente.

     

    Resultados e risco dos pacientes com DPOC

    O hipogonadismo foi detectado em 39% dos pacientes hipertensos, nos portadores de dislipidemia em 83%, nos obesos com IMC >30 em 49,6%, no diabético tipo 2 em 8,2%, na síndrome metabólica em 17% e no DPOC em 13%.

    De todos pacientes com doenças associadas, os portadores do DPOC foram os que tiveram maior risco para o desenvolvimento do hipogonadismo na análise multivariada com risco de 24,40 (IC 95%: 11,83-50,34, p <0,001), seguido da dislipidemia com 15,80 (IC95%: 10,64-23,46, p <0,001). Isto significa que o risco do paciente com DPOC em relação ao paciente hígido é 25% maior para desenvolver hipogonadismo. Portanto, com todas as consequências associadas as duas doenças com graves repercussões clínicas para piora da qualidade de vida e portanto, por morte por diferentes causas.

     

    Estudos randomizados sobre DPOC e hipogonadismo

    O nível baixo de testosterona pode ser um fator de risco reversível para incapacidade funcional e deterioração em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
    Nove estudos observacionais em 2918 homens com DPOC relataram níveis consistentemente mais baixos de testosterona total em comparação com controles (a diferença média ponderada foi de –3,21 nmol/L (95% IC ‐5,18 a −1,23).
    As terapias em estudos randomizados de curto prazo em homens com DPOC, mostraram que a testosterona melhorou significativamente a força muscular máxima (diferença média padronizada (SMD) foi de 0,31 (95% CI: 0,05 a 0,56)) e pico de carga de trabalho (SMD foi 0,27 (IC 95%: 0,01 a 0,52) em comparação com pacientes controles. Todavia, não melhorou o pico de ventilação de oxigênio, VO2 (SMD foi de 0,21 (95% IC -0,15 a 0,56)) ou a QVRS (SMD foi de –0,03 (95% IC -0,32 a 0,25)).

    Evidências limitadas de estudos randomizados de curto prazo em pacientes com DPOC predominantemente masculinos sugerem que a terapia com testosterona melhora os resultados de capacidade de exercício, ou seja, pico de força muscular e pico de carga de trabalho.

     

    Reabilitação dos pacientes com DPOC

    A reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC deve ter um alvo terapêutico para intervir na melhora da disfunção muscular esquelética. Assim, é importante estabelecer com segurança se o nível médio de testosterona endógena está diminuído em pacientes com DPOC. Portanto, caso seja confirmado, essa condição é reversível com a terapia de suplementação de testosterona. De fato, as evidências de ensaios clínicos randomizados sugerem que a terapia com testosterona melhora a capacidade de exercício e a QVRS sem aumentar os eventos adversos graves.

    Contudo, caso você queira saber mais sobre esta e outras doenças do trato gênito-urinário acesse a nossa área de conteúdo para pacientes para entender e ganhar conhecimentos. São mais de 145 artigos sobre diversos assuntos urológicos disponíveis para sua leitura. A cultura sempre faz a diferença. Você vai se surpreender!

     

    Referência

    https://www.lung.org/our-initiatives/education-and-training/

    https://www.auanet.org/guidelines/testosterone-deficiency-guideline